UM GOSTO DE ONTEM...

Nem é de um poema

que eu preciso tanto!

Mas de uns olhos que me faziam bem,

da quietude que minha cidade tinha,

da infância que fugiu tão ligeira.

Do pão que o velho trazia

num carrinho de mão!

Nem é de um poema

que eu preciso tanto!

Mas da morena da minha sala de aula,

do sossego de uma tarde de pescaria,

da algazarra dos tempos de criança.

Da carência de tudo que não

fazia-me falta nenhuma!

Nem é de um poema

que eu preciso tanto!

Mas das saliências que nem eram pecados,

dos jogos que o palco era a rua de casa,

dos furtos das frutas dos vizinhos.

Do meu pai que se preocupava

tanto com aqueles filhos!

Nem é de um poema

que eu preciso tanto!

Mas dos loucos amores de uma noite só,

das fugidas pro morrinho de São João,

da boca seca nos iniciais namoros.

Do contentamento de herois

no dia do primeiro beijo!

Nem é de um poema

que eu preciso tanto!

Mas de mim mesmo dos outros tempos,

das emoções que não soube aquilatar,

da vida que havia na vida de antes.

E que a saudade de agora

tenha o gosto de ontem!

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 20/06/2013
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