MISSIVA CATINGUEIRA (A Bizunga e o Facheiro)

Me perdoe meu amor

Pelo meu amar tão bruto,

Meu carinho diminuto,

Peito pouco acolhedor.

Sabe Deus, meu confessor,

Que apesar dessa rudeza

Há um tanto de pureza

Por detrás dos meus espinho.

Em meio ao meu desalinho

Tente ver que eu te amo,

Que por tua brisa clamo

Para mover meus moinho.

O beija-flor do sertão

Faz seu ninho na urtiga,

Entre espinhos se abriga

De cobra, rato e furão.

Ô, meu amor, chore não

Se em mim tu se espinhar,

Pois quando a seca passar

Serei chuva de carinho

E tu, bizunga no ninho

Tal qual santa num altar.

Sou facheiro seco e antigo

Espinhando quem me abrace

Mas meu bem, é só disfarce

Pra espantar os inimigo

Do nosso amor e eu te digo:

Se minha casca endureceu

E entre espinhos se escondeu

(Queira Deus tu entender)

Foi só para proteger

Esse amor que é só seu

Bizunguinha, se ainda assim

Pra longe tu quis voar

Secarei a te esperar

Nessa caatinga sem fim.

Quando puder pense em mim,

No meu espinhento amor

Que hoje causa tanta dor,

Mas já foi teu passarinho.

Assinado, com carinho,

Teu facheiro beija-flor.

Prof Lucivaldo
Enviado por Prof Lucivaldo em 28/06/2013
Reeditado em 26/09/2013
Código do texto: T4361930
Classificação de conteúdo: seguro