Remorso

Faço versos perversos sem lágrimas .

Na seca intensa de meu rosto

assombra-me o desencanto solene

Não tenho pranto e nem dor...

Há o vazio extenso da indiferença.

O sangue de meus versos

Evaporou-se pelos ventos

E, nas madrugadas frias e escuras

perdeu-se em descaminho.

Contrabandeou afeto do passado distante

e plantou no cimento do presente.

Assistirei o afeto morrer lentamente

sem que de meus lábios o selassem

com o romance das palavras doces.

É uma autotortura.

Minha angústia crivada de lembranças

fica a desconfiar

se isso afinal seria felicidade

Se os corpos que se encaixam eram fiéis

ao sentimento, ao momento ou mero desalento.

Ou se apenas praticavam a poesia corporal

ao relento e

diante do descalabro dos tempos.

Sua mão ainda firme,

Seus olhos de guerreiro cansado

E uma fresta em seu coração.

Iluminou-me todo o dia.

Retirou do canto da minha boca o amargor

Do deserto pavimentado em meu redor.

Saudade ficou triste.

Ausência ficou colorida.

E, recolho-me ao desvão

do remorso que dói no peito

e pinga quente

sobre um coração morto.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 09/08/2013
Código do texto: T4426934
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