Triste voo do Condor

Será inútil reler a vida,

pois os poemas que se escreveu

esmaeceram em pálidas sombras

e os corredores que ligavam salas e quartos

esvaziaram-se de todas as presenças.

E já não se escutam risos ou lamentos.

Apenas o silêncio preenche todos os vazios

e só te restou uma sombra que tanto assombra.

Esquálido espectro, pouca carne tens.

E menos alma, ainda.

Dizem que foi o vício, o sonho, a utopia

e só uma fantasia que nunca mais voltou.

As rimas ficaram na gaveta,

mas a dor se recusa ser guardada.

Ardem contínuas as garras do Condor ultrajado.

Para Bete, assassinada em 25.09.1976 nos porões da Ditadura. Saudades.