De Compostela V

Há ruas molhadas em silêncio

enquanto o mundo rebenta de saudade,

o tempo de pedra não se move

nos candeeiros de sombras doentes,

urdume da vida e das cousas

que nos fenderam à metade,

já antes de nascer, nascidas

aleijadas, inacabadas, carentes.

Quem pensara que aguardando

horas sem conto, dias a fio,

primaveras, verões e outonos

pudesse chegar aonde tu chegaras,

quem pensara, ainda sabendo

que o relógio vai a contrafio,

que sem ti o tempo não anda,

é contigo e para, não caminha,

a tua ausência é a ausência minha.