SAUDADE
Como uma igreja solitária
Sem rumor de orações, pedra e sombra.
A meia-noite, lúgubre e deserta
Como uma igreja solitária.
Sem sons de sinos.
Sem cânticos e sem luzes
nos altares cobertos de poeira.
Como uma igreja solitária
Onde o silêncio se reclina e ora
ante imagens pálidas
múmias de olhos abertos
com as mãos estranhamente rígidas
entre as dobras de suas roupas.
Quieta, como a quieta definitiva
unanimidade e morte das coisas.
Como uma igreja solitária,
cheia de suspiros
de almas que foram e não são agora.
Ante a atmosfera viciada e fria
de túmulo lacrado, largamente,
corroe, embaça e mancha
Com essa saudade de pedra e sombras,
desperto, a meia-noite.
Como uma igreja solitária.
2007/05/01