carta interplanetária
a vocês que se foram
tristes sob a chuva
num foguete casual
levando seis, sete
talvéz oito dias meus
complete
entre estes anos luz;
envio-vos neste Halley
que não previsto passa,
minhas saudades.
o sol não mais me aquece
nem sinto vida
nestes dias que por mim passam.
tenho adoecido
e encontrado outros objetivos
pra esquecer
que triste me sinto
por viver aqui
sozinho o claustro.
toda a noite
falo às estrelas
coisas tolas e bonitas
que um dia
ainda a vocês não disse.
ontem,
intercepitei uma mensagem
que me negava a passagem
cá terei que recomeçar
tudo e a vida
mas...
não estou sofrendo
após tanto tempo,
é que vocês
sempre seram
meu dia lindo.
sei que choram
eu não choro mais,
chove toda tarde
como naquela viagem
que subiam embarque
deste meu exílio.
e me rodeiam
falsos amigos
sinceros inimigos
que até me permitem
não lembrar
que outra Lua nossa, passa.
acho que ganhei um prêmio
e a distancia aumentará
tão logo parto
cá, sem vocês não dá.
talvéz, me torne
um monge, um ermita
um beato ou um comandante
desta solidão dilacerante
a nunca se acabar.
peço,
não cresça meu ramo
sem perto esse tronco
minha água
não desague em mar
sem eu a acompanhar;
meus verdes olhos,
meus cílios,
meu filho.
por fim, encerro
com amor esse ardor
que o túmulo
- via láctea -
somente este
minhas esperanças
pode frustrar;
que jamais, que outra vez
nossos cósmos
deus não unirá.
como aceitar?
se desejo mútuo
vontade cúmplice
o universo pode transformar
e essa distancia serão lembranças.
vos deposito trilhões de beijos
vos reafirmo amor e amar
cá envio sem cessar a saudade
meu breve e arrependido adeus.