quarto calado

não me lembro de ter me achado impuro

me lembro foi de um terno engomado

nem que eu tivesse medo do escuro

pois vi que nada tinha acabado

minha casa, meus papéis, meus escritos

meus temores rindo da solidão

uns anseios para lá de esquisitos

na camisa eu pregando o botão

a parede que faltava pintar

no telhado eu precisava subir

só pra ver se poderia escutar

a canção que nunca soube ouvir

no quintal havia até carambola

tartaruga come o bicho-papão

e o mundo que encontrei na escola

já fugiu do alcance da minha mão

os gemidos da cachorra no cio

o galinho garnisé que acordou

sabiá bebendo água no rio

tinhorão que hoje não se enfeitou

a penumbra desse quarto calado

a cadeira que não fala comigo

e esse sonho que me põe acordado

e que insisto que não é de castigo

pelo mundo meia volta não dei

nem preciso tudo está por aqui

com a tristeza tantas vezes contei

da alegria tantas vezes fugi

o silêncio é um refúgio – que nada!

quero ter alguém com quem conversar

um alguém com quem comer marmelada

e correr pra não esquecer de chegar

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 24/05/2014
Código do texto: T4818095
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