A centelha
Meu amor,
Ainda lembro-me bem.
Suas pequeninas mãos em concha sobre as minhas protegendo aquela delicada centelha.
E teus olhos do mais profundo verde instruindo-me em silêncio aos cuidados daquele delicado presente.
Aquela chama meu amor, saiba,
Eu fiz de tudo para mantê-la a salvo.
Eu a coloquei no lugar onde ela pudesse crescer e se incendiar ainda mais.
Eu tive forças para alimentá-la enquanto você me olhava e me dizia que tudo ia ficar bem.
Mas então você se foi.
E eu não sei dizer, meu amor, em que dado momento o vento soprou mais forte e a levou.
Sim, meu amor, eu cuidei do nosso delicado presente.
Eu cuidei com todas as minhas forças, eu lhe juro.
E me perdoe se tudo o que tenho agora são essas lágrimas que me escapam dos olhos e embarcam na lufada do mesmo vento que sucumbiu a nossa dádiva luminosa.
Talvez, esse mesmo vento carregue-as até onde você está agora e então, as gotículas do meu pranto repousem em sua pele e lhe desperte do sono que a levou.