PELÚCIA

A rua era um play grond,

vasta amplidão aos olhos daquela infância,

os olhos tinha sede,

sede sadia de açude novo.

De certo que os euro-descendentes,

eram preconceituosos,

mas suas crianças, nem tanto,

e assim roçávamos a pele.

Respiro o ar quente da memória

e todo dia redesenho outras franjas

no tecido flácido do rosto.

Pelas reflexões oníricas,

atravesso relógios distraídos,

meu espelho recua suas asas

e um braço invisível

retira o tesouro

do baú de lembranças.

Estendo a mão

à minha sombra

para abraçar um menino

de gestos antigos.

Vesti a máscara

que acelera os homens,

andei pelo túnel escuro, envelheci.

Minha verdadeira roupa

não veste a carne degradada.

A infância é uma pelúcia

que aquece a alma,

quando é o menino

que assume por dentro

o velho remoça por fora.

Delmo Biuford
Enviado por Delmo Biuford em 29/05/2007
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