PELÚCIA
A rua era um play grond,
vasta amplidão aos olhos daquela infância,
os olhos tinha sede,
sede sadia de açude novo.
De certo que os euro-descendentes,
eram preconceituosos,
mas suas crianças, nem tanto,
e assim roçávamos a pele.
Respiro o ar quente da memória
e todo dia redesenho outras franjas
no tecido flácido do rosto.
Pelas reflexões oníricas,
atravesso relógios distraídos,
meu espelho recua suas asas
e um braço invisível
retira o tesouro
do baú de lembranças.
Estendo a mão
à minha sombra
para abraçar um menino
de gestos antigos.
Vesti a máscara
que acelera os homens,
andei pelo túnel escuro, envelheci.
Minha verdadeira roupa
não veste a carne degradada.
A infância é uma pelúcia
que aquece a alma,
quando é o menino
que assume por dentro
o velho remoça por fora.