Não:Já não falo de ti....

Não: já não falo de ti, já não sei de saudades.

Feche-se o coração como um livro, cheio de imagens,

de palavras adormecidas, em altas prateleiras,

até que o pó desfaça o pobre desespero sem força,

que um dia, pode ser, parece tão terrível.

A aranha dorme em sua teia, lá fora, entre a roseira e o muro.

Resplandecem os azulejos- e tudo quanto posso ver.

O resto é imaginado, e não coincide, e é temerário

cismar. Talvez se as pálpebras pudessem

inventar outros sonhos, não de vida...

Ah!

rompem-se na noite ardentes violas,

pelo ar e pelo frio subitamente roçadas.

Por onde pascerão,

nestes céus invioláveis,

nossas perguntas com suas crinas de séculos arrastando-se...

Não só de amor a noite transborda

mas de terríveis

crueldades,

loucuras,

de homicídios mais verdadeiros.

Os homens de sangue estão nas esquinas resfolegando,

e os homens da lei sonolentos movem letras

sobre imensos papéis que eles mesmos não entendem...

Ah!

que rosto amaríamos ver inclinar-se na aérea varanda?

Nem os santos podem mais nada.

Talvez os anjos abstratos

da álgebra e da geometria.

Milay
Enviado por Milay em 27/03/2015
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