VERSOS PARA O IRMÃO

Sânzio Augusto Vieira - in memoriam

A morte rasgou o horizonte,

vejo-te na fresta do eco,

quando a luz do som vira lamento,

e a entranha invulnerável da lembrança

sangra na artéria do momento.

Tua ausência é venda nos olhos,

sede amarga, angústia crua;

temperatura sua quando já

não estava ali... Eu e o

quieto mundo conversando

num colóquio com a linguagem

da dor.

Desenhando na névoa o

literal olhar sem ti.

Irmão hóspede do éter,

decodificando sorrisos

e silêncios, atando o verso

a sonoridades alvas, irresignado

com o real apenas geométrico,

sublimando o ritmo no

passo derradeiro, entre a condição

e o lastro de um furacão.

No arquivo da nuvem minha

lágrima se eternizou: era vapor

torrencial.

Tua foto escuta meu olhar.

A vida recrutou metáforas para

a tutela da espera.

Na interioridade a paisagem sem ti não

existe... estás em todos

aquis.

No espaço divino do laço

inexorável.

Rafael Gustavo Vieira
Enviado por Rafael Gustavo Vieira em 02/08/2015
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