VERSOS PARA O IRMÃO
Sânzio Augusto Vieira - in memoriam
A morte rasgou o horizonte,
vejo-te na fresta do eco,
quando a luz do som vira lamento,
e a entranha invulnerável da lembrança
sangra na artéria do momento.
Tua ausência é venda nos olhos,
sede amarga, angústia crua;
temperatura sua quando já
não estava ali... Eu e o
quieto mundo conversando
num colóquio com a linguagem
da dor.
Desenhando na névoa o
literal olhar sem ti.
Irmão hóspede do éter,
decodificando sorrisos
e silêncios, atando o verso
a sonoridades alvas, irresignado
com o real apenas geométrico,
sublimando o ritmo no
passo derradeiro, entre a condição
e o lastro de um furacão.
No arquivo da nuvem minha
lágrima se eternizou: era vapor
torrencial.
Tua foto escuta meu olhar.
A vida recrutou metáforas para
a tutela da espera.
Na interioridade a paisagem sem ti não
existe... estás em todos
aquis.
No espaço divino do laço
inexorável.