Não tem nada lá fora

Eu até poderia, eu até tento, cumprimento o vão, o ar que recolhe o tempo. Eu espero, eu recrio, eu me bronzeio de uma atmosfera camaleoa, imutável como só as necessidades sabem ser.

Eu quero, eu penso, aceito. Prometo, recuso, esqueço e descumpro no mesmo exato segundo. Eu não demonstro mais sentimento, e é por tanto te-lo, é por me inebriar na posse, é por me ver brigar na poça.

Não tem nada lá fora!

Nenhum suspiro tímido, nenhum descuido de quem não pode ser descoberto, nenhum propósito de quem quer atenção sem incomodar. Não tem nada... Nenhum passo curto e rápido que para parede, nenhum bravejo valente da coragem duvidosa, nenhum pigarro ou pianço preocupante que me faça esperar o sinal do bem.

Não tem nada lá fora!

A água esperando pra ser reposta, Não tem a tigela esperando por mais, as pedras esperando serem limpas, um pano de lã esperando adentrar a casinha quente, uma menina orgulhosa esperando meu boa noite... Não tem!

E é esse o problema. De eu que toda hora, dia e noite me descoordeno nas funções que não mais existem, do que virou passado sobre alguém que virou eterna. Não tem ninguém lá fora esperando o apagar da casa, ninguém para conversar sem palavras, ninguém para ocupar meu colo sem pressa.

Não tem nada lá fora, e tem tudo aqui dentro: um vazio que eu não consigo contar, os contos e coisas que se eu contar vou chorar, uma saudade oceano, que eu sei, não vai secar, e mais um bocado de “pra sempres” só nosso.

E ao dormir me falta um pedaço de rotina, e ao viver, sem você, me falta um tanto do coração.

Douglas Tedesco – 13.08.2015 – 22h e 19min.