Saudade

Saudade do meu tempo de infância,

onde o meu pai cuidava de mim,

não sofria por amor nem conhecia a ganância,

pra mim nada tinha fim.

Saudade do meu tempo de menino,

comemorando que andei de bicicleta sem cair,

o meu sorriso era puro e divino,

nem podia imaginar que as pessoas podiam trair.

Saudade quando eu não conhecia a dificuldade,

de quando minha obrigação era assistir desenho,

me faz tanta falta meu pai vivo de verdade,

hoje só me resta ter empenho.

Saudade das comidas e lanches da infância,

parece que tudo perdeu o sabor,

eu nem conhecia a intolerância,

a vida me apresentou o dissabor.

Saudade de ouvir conselhos do meu pai,

mesmo que do exagero fosse além,

hoje a tristeza vem e a saudade não vai,

tem horas que não me sinto bem.

Saudade de falar tudo na cara,

sem me preocupar se achariam ruim,

lembro que aos doze ganhei uma vara,

que de presente meu primo irmão deu a mim.

Saudade dum irmão que morreu antes que eu pudesse nascer,

já nasci sofrendo por esse fato consumado,

aos 22 vi meu pai inesperadamente morrer,

por compor e escrever me vi apaixonado.

Saudade de quando meu pai tinha juventude,

e podia ainda comigo brincar,

hoje não acredito que o ser humano mude,

hoje sei que a qualquer hora posso chorar.

Saudade de quando pequeno em plena madrugada,

dizia "pai bora brincar?"

ele trabalhava o dia todo e de alma cansada,

via nisso um motivo pra gargalhar.

Saudade de quando via minha mãe chamando meu pai toda carinhosa,

por um nome que era bonitinho de ouvir,

ele a amava tão puramente sem mentira e sem prosa,

mais que uma imensa falta ela deve sentir.

Saudade de quando eu não tinha saudade,

tristeza e bucolismo tomam conta de mim,

saudade o meu peito invade,

meu Deus porque tinha que ser assim?

Ricardo Letchenbohmer
Enviado por Ricardo Letchenbohmer em 26/08/2015
Reeditado em 26/08/2015
Código do texto: T5360101
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