Visita Surpresa
Eu confundi seus beijos
com outros rostos,
achei que nunca mais
te escreveria um poema,
mas a saudade é um problema
que visita sem avisar.
Eu desconheço seus pensamentos agora
porque a escapatória
se fez uma risada vazia.
Eu não entendo a rapidez
do seu coraçao -
é muito fácil sair e entrar -,
não sei o quanto posso me lisonjear.
Eu entendo que meu amigo
precisava d'um amor declarado,
e que eu só conseguia entregar
um relatado.
Eu te mostrei as profundezas
da minha alma,
a clareza do meu espirito
e a transparência dos meus vícios,
relembro das vezes em que dizia
sobre as beldades da minha independência,
e eu sempre senti que era isso
o que mais te repudiava e atraía.
Te contei sobre as mãos que escorregaram
quando segurei,
você disse que não deveria mais temer,
porque você não largaria a minha.
Mas você foi apenas outro
que ia e vinha,
quando a droga fincava no sangue
e subia.
Talvez então seja a melhor opçao
guardar a saudade
e os sonhos bons,
vivendo como estranhos
de alguns dons.
Em diferentes cidades,
criando galáxias
em auroras de memórias,
captando outros sons,
segurando sua frase
pendurada na minha parede,
te contar meus dias
e saber suas novas histórias
se tornou uma utopia,
os anos voaram,
mas nada nunca mudou entre a gente -
por tudo o que conheço
de você agora,
pelo resto dos lábios que toco,
pela despedida que foi embora
sem deixar vestigios de avisos.
Talvez assim sejamos mesmo
melhores sãos culpados,
do que loucos infernais e apaixonados.