NADA COM NADA

A vida, casada com a morte

O azar, enamorado da sorte

O branco, nulher do preto

Quebrar, a paixão do conserto

O que seria de um

Sem o outro

O preso sem o solto

Não teria sentido algum

A noite sem o dia

A realidade sem fantasia

O meu corpo sem o teu

O minotauro sem Perseu

O que seria de tudo

Sem o nada

Do guerreiro sem a espada

Do falante sem o mudo

O olhar, sem o ouvir

O nobre sem o pobre

O ficar, sem ir

O fio sem o cobre

De nada seria capaz

Um único universo

A frente sem atrás

O lado sem avesso

Mas, confesso-te

São apenas desculpas

Para não esquecer-te

Tudo por minha culpa

E nada sou assim

Só eu e mim

Eu não faria sentido

Se você não tivesse existido

Terminando tudo isso

Lá fora tem chuvisco

E começa o dia agora

Sinto dor, não vai embora...