Tenho o tempo nas mãos

Teu cabelo negro se enrolando em meus dedos,

encantando meus olhos,

prendendo em minha barba,

atingindo cada sentido,

como o vento frio da madrugada.

A fumaça do cigarro vai subindo.

E no desenho do ar vejo seus olhos,

brilhando chama viva e encobertos pela calma e tenra

escuridão.

A fumaça se desfaz ao vento e as estrelas me aquecem.

Sento em uma calçada qualquer,

as luzes amareladas dos postes,

as vidas empoeiradas nas casas.

As luzes vão se clareando,

meus olhos fechando

em devaneios vou mergulhando.

...

O vento balança as cortinas

deixando, rapidamente que alguns raios invadam seus olhos selados.

Seu cabelo balança ao gosto do vento de uma manhã de junho...

Você se encolhe...

Com uma das mãos vou tirando uma mecha negra de seu rosto.

Com a outra cubro seus pés.

De olhos ainda fechado o bom dia não dito faz uma curva em teus lábios.

Lentamente meus lábios tocam os seus.

O tempo parece desacelerar,

enquanto seus olhos vão se abrindo

o vento entra outra vez pelas fendas de minha mente,

e enquanto a luz vai se adaptando aos seus olhos escuros

a primeira visão que eles tem é a do meu sorriso

causado por um beijo doce...

Levo minhas mãos através do emaranhado de cabelos na sua nuca,

seguro sua mão,

e antes mesmo de qualquer palavra dita entre teu doce sorriso...

...

Acordo dos devaneios,

o cigarro esquenta meus dedos,

a fumaça e a centelha adentram a noite escura.

Meus pensamentos se perdem nas estrelas,

procurando o brilho dos teus olhos.

Meus olhos veem seu cabelo nos espirais da fumaça

que foge aos meus dedos.

Deito na calçada fria,

e com as mãos vazias

tento diminuir a distância entre teus lábios e os meus.