DOCE POEMA

DOCE POEMA

Mimosas glicínias

De olhos tão azuis,

Que a Santa Maria Madalena

Lá no altar ficava tão cheia de pena

Por seus olhos não serem os teus.

Ao centro do adro a camélia vergava

Ao peso de tão vermelha cor,

E o som de mil abelhas em cada flor

Ecoava dentro da velha igreja,

Como se fora estranha reza.

Deliciosos eram os frutos nacarados

Duma intemporal nespereira,

Mais doces que o mel da urzeira;

E por tão altos, mais desejados,

Pela malta miúda, inteira.

E por entre murtas no passal,

Um anjo disfarçado de mulher

Ficava por ali a semear

Sorrisos roubados ao sol,

E mil promessas proibidas no olhar.

Ah, velho adro da minha infância,

Como é bom te recordar!

Não há tempo nem distância,

Que possa da minha lembrança apagar

Tão belo tão doce poema.

Eduardo de Almeida Farias

16/1/2006

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 10/07/2007
Código do texto: T559032