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Vem repentina a saudosa viagem

dos tempos gloriosos

em que nada era,

esgares vulcânicos

numa noite cheia de olhares.

De mim nada saía.

Nada me podiam tirar.

Vi-me sulco, sem o perceber,

frieira em dia quente, satisfeito

por não saber que tudo

sofre de um ciclo crescente

como o meu olhar ao infinito.

Aquela cereja sempre caiu...

Rir-me era o mais fácil,

ainda continua a sê-lo.

As cerejas não param de cair...

Tudo vem tarde quando não se quer,

um dia a consciência

de que sempre fui alguém

mas sem recordações

apoderou-se de mim,

um traço com início no presente

que é tarde, muito tarde.

Quando pude não tirei notas

de como fazer um ser supremo,

sofro agora das mortalidades

com que me perverteram

e dos infortúnios dos ideais

em que me afogaram.

Daniel Delgado
Enviado por Daniel Delgado em 13/07/2007
Código do texto: T563807