Saudade birrenta

saudade é uma fera mansa.

daqueles silêncios que incomodam.

a sala vazia.

ou a praça com rabiscos anteriores que vão sumindo.

fera mansa.

indomável.

arde,

até que esteja num outro lugar

cheio de sentidos íntimos

prontos pra serem vividos e deixados para trás.

são as gotinhas discretas que salinizam

dentro dos olhos.

a pedra dura dentro do peito.

uma poesia presa

que encosta,

só pra fazer birra ao recusar saída.

acúmulo de amor pelo que passou,

mas que ficou alojado em algum canto

do lado mais humano.

é só o coração teimoso

com ares de reticências,

insiste em querer voltar

numa briga com o tempo.

inutilmente como criança mimada

que insiste naquilo que não pode ter...

só que agora,

é coisa de gente grande

que um dia teve,

e não quer abrir mão.

ela não entende que não é perder.

é ganho:

saudade é sobra de amor.

aceitar o que passou,

é confiar no amanhã que não chegou.

arte de sentir-se merecedor.