céu de chumbo

céu de chumbo

nuvens cinzas porosas

caem gotejando sobre o dia

céu de chumbo

vento frio

a cotovia tímida

pia quase sozinha

céu de chumbo

pesado, aos poucos

escurecendo

mostra outra luz

mostra faces, facetas

arestas de um cubo imaginário

o azul antes poético

é hoje gris

o sol antes rainha

de quinta grandeza

cede a vez para a luz

apagada e amarelada

da lua

poucas estrelas há no firmamento

poucos pássaros voam

e as nuvens se disfarçam

amores corrompem o tempo

braços se entrelaçam

corpos se aquecem

sem incendiam

acendem o desejo morno

e quieto

um gesto de adeus

um lenço bordado

uma taça de vinho

um frio percorrendo a sala

e lembranças chovendo por

fora de mim.

fecho janelas

tranco portas

lacro corações

calo vozes da consciência

e nesse enorme dia nublado

a ausência do entardecer

deixa uma tristeza sem fim

tudo é singular no plural.

tanto cinza e nenhum vermelho

tanto azul apagado, acinzentado

me lembra

phênix a renascer a poesia

secreta em nós.

tudo é peculiar no banal

o céu anuncia o inverno que

se revela em nós.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 29/07/2007
Reeditado em 29/07/2007
Código do texto: T584632
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