O despertar de Sra. Cavalcanti

Era dia claro quando seus olhos se abriram

Era dia claro e os pássaros movimentavam-se lentamente

Acompanhavam o penoso movimento das órbitas

Descrevendo círculos até sumirem na claridade

O vento suspirava, como amante dedicado, seus poemas de amor às flores

E estas sorriam, respondendo com carícias

Despetaladas pelo vento, assim fazia amor a primavera

O vento as soprava intenso

E as pétalas repousavam ao beiral da janela

Caíam sobre os olhos de movimentos lentos

De piscar infinito, onde um facho de luz tornava o castanho

Da cor do nascer do sol.

Às vezes cerrava as pálpebras

Às vezes as abria

E o vento suspirava

E em resposta a boca sorria

Deitada na cama fria

Onde um dia um corpo quente

Em teu seio repousaria

Suspirava a dama branca

Suspirava a bem amada

Fechava os olhos e chorava

Abria os olhos e sorria

Pois em seu peito de mulher que ama

O amor a completava

A distância a corroía.

Na janela repousava

E atenta, apenas ouvia

Os poemas que seu amor lhe mandava

E que o vento saudoso trazia.

Não posso dizer se chorava

Não posso dizer se sorria

Apenas sei que a dama amava

E seu coração se expandia

As flores despetalava

E o vento amoroso partia

Levando a pétala alada

Para seu amor que esperava

Para o poeta que se abria.