Vultos do passado

Volta criança

Pra teu semi-árido

Teu horizonte muito delimitado

Aprende criança

Que somos deuses

Pois é nosso o reino

Sim

Aquele mesmo que inventavas

Nos folguedos da meninice

T'espoja na areia branca

Rebatizado em nome do sol e da seca

Ouve

O aboio

O tilintar dos chocalhos

Os cascos contras as pedras

Regozija-te

No travoso do umbu

Sente o cheiro da emburana

As notas todas abertas

Agudas

Chegam a zumbir

Qual a cigarra

No fim da tarde

Cheira

O couro do gibão

Sente a textura

Forte e macia

Vê teu povo

Com a lata d'água na cabeça

Os pés gretados

Contra o chão quente

E no fim do dia

Quando a campânula do sol

Vier obscurecer teus sonhos

Volta-te aos mitos

Tão velhos

Quanto teu velho pai

Regride até não poder mais voltar

Luiz Eduardo Ferreira
Enviado por Luiz Eduardo Ferreira em 30/07/2017
Reeditado em 27/05/2022
Código do texto: T6069336
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