Vultos do passado
Volta criança
Pra teu semi-árido
Teu horizonte muito delimitado
Aprende criança
Que somos deuses
Pois é nosso o reino
Sim
Aquele mesmo que inventavas
Nos folguedos da meninice
T'espoja na areia branca
Rebatizado em nome do sol e da seca
Ouve
O aboio
O tilintar dos chocalhos
Os cascos contras as pedras
Regozija-te
No travoso do umbu
Sente o cheiro da emburana
As notas todas abertas
Agudas
Chegam a zumbir
Qual a cigarra
No fim da tarde
Cheira
O couro do gibão
Sente a textura
Forte e macia
Vê teu povo
Com a lata d'água na cabeça
Os pés gretados
Contra o chão quente
E no fim do dia
Quando a campânula do sol
Vier obscurecer teus sonhos
Volta-te aos mitos
Tão velhos
Quanto teu velho pai
Regride até não poder mais voltar