CARTA DE AMOR TARDIA
(Poesia revisitada)
Seu eu lhe escrevesse uma carta de amor
Onde pudesse revelar os sentimentos estiolados
Contaria o quanto fui desprevenido para seus braços
E o que aprendeu com a dor, meus olhos molhados
Pedir-lhe-ia perdão por não ter-lhe amado mais
Por não ter cultivado o amor que ainda sinto
Posto que amor é nuvem que não morre e se refaz
Nos seios da alma que é mistério e labirinto
Pedir-lhe-ia perdão pelos beijos que não lhe dei
Quando o amor ardia e a paixão me devorava
E eu embrulhado em pequenas crises de ciúme
Que amordaçava o desejo e à vontade esfriava
Pedir-lhe-ia perdão por não ter posto mais atenção
Nas suas queixas que minha indiferença ampliava
Que certamente levou-lhe a apertos no coração
E aos nós da dúvida se eu, de fato, lhe amava
E o que dizer do silencio e das poucas palavras?
Quando você era uma platéia a ouvir minha voz
E eu perdido no bojo de estranhas mágoas
A desperdiçar os bons momentos a sós
Pedir-lhe-ia perdão por ter sido volúvel
Ao buscar em outro olhar o que só havia no seu
A luz do amor que meus olhos nunca viram
Que na mata escura do meu ego se perdeu
Falaria do desconforto e das lágrimas
Que gerei no seu íntimo com a insensibilidade
Ao rasgar a seda fina dos seus sentimentos
E amar-lhe com as mãos da vaidade
Pedir-lhe-ia perdão por não perceber que me amavas
Que sua natureza buscava carinho e calor
No meu egoísmo, só o que eu sentia, importava
Assim não dei guarida os seus sonhos de amor
Diria que minha insegurança sempre justificou
Meu comportamento avesso de viés dominador
Que ele teria machucado nosso relacionamento
Enfraquecendo o fio tênue onde anda o amor
Hoje maduro, vejo com a clareza das águas
A dança insensata dos sentimentos banais
Que destroem a flor da pequena da felicidade
Quando trovejam os destemperos verbais
Agora que o amor no palco dos seus olhos se fechou
E as cinzas da sua paixão já sumiram no ar
Pergunto porque as ruas da saudade são tão largas?
Porque são tão estreitos, os caminhos do amar?