Como ERA em qualquer cidade do interior

Saudades das brincadeiras de meninos e meninas,

na então pequena Colatina,

do Aristides Freire, Conde de Linhares,

lugares como o Iate Clube

e de poucos olhares para o futuro.

Meus irmãos já semeando o amanhã,

já maduros e com muitas responsabilidades,

entre rádios, válvulas, faculdade e sonhos

e o pesadelo de tantos irmãos para criar.

Minha irmã também entrou na dança,

não era homem, mas era a mais velha

e a esfera girava, pois é função da esfera girar.

Caixa de loja de tecidos,

foi até 'miss', de tão bonita que era

e o mais interessante é que era por dentro e por fora.

Dois dos irmãos já tinham tentado outros ares

e inspirado neles, me preparei para voar,

também.

Os pais tinham por meta casar as filhas

e eu não era ainda nem casado comigo,

amigos tinham amigas até uma determinada idade,

depois teriam que se decidirem, trabalharem

ou para as meninas,

a opção ou condição, de se casarem.

Casarem-se e sair de casa

e quantas, ainda com o ferro a brasa,

foram treinar passar a farda dos seus maridos.

Um tempo bom, mas melhor, em parte, para os meninos,

mas nem tão melhor assim, pois enfim,

tinham a obrigação de sustentar o lar

e aquela situação me assustava

e eu imaginava e pensava que em algum lugar,

essas tarefas poderiam ser divididas

e então a seguiu a vida

e eu creio que encontrei a saída.

Casei para dividir e nunca mais voltei

e quando o fiz, foi para visitar.

Hoje, bem ou mal,

a única opção da minha filha não é se casar

e creio que fiz o bastante

para que meu filho não tenha que me sustentar.

Basta sustentar a si e se assim o fizer,

só por isso eu já estarei muito feliz.

Sonhar, quando podia, foi tudo o que eu fiz,

amar, quando eu pude, foi tanto quanto bola de gude,

saudades, tenho sim e são muitas,

mas me consolo, sempre recordando,

da bermuda de menino ainda quarando,

no varal no quintal da nossa casa,

em Colatina.

E das brincadeiras de meninos e meninas,

quantos e quantas ainda se recordam?

De vez em quando é preciso dar corda

no relógio das recordações,

pra quem não permitiu

que a vida fosse totalmente digital.

E também tinha manga espada no quintal!