A BELA ADORMECIDA!

Estou tentando continuar minha vida sem você.

Mas tudo tem sido extremamente penoso!

Acho que talvez eu não faça por merecer,

Continuar neste mundo onde tudo é tenebroso!

Procuro amigos e parentes para me consolar,

Embora saiba o quanto é doloroso.

Pois pensar em você simplesmente me põe a chorar,

E sair dali depois de estar dentro, pode ser desastroso!

Sua imagem ainda me seduz e conforta.

Quando procuro por ti e ela me aparece

Quase que do nada, abre-se uma porta!

E lá está tu, a pura imagem que jamais se desvanece!

Os dias e as horas se vão, infinitas.

As recordações se mostram, como numa película.

Repassando sempre, as imagens mais bonitas.

Cerceando meus pensamentos, dentro de uma península!

Continuo a chorar, pois não tenho argumentos,

Que me façam suprimir meus lamentos.

Ainda que nunca tenhas reclamado de nada,

Sinto-me completamente incapaz, minha alma, espicaçada!

Tenho, às vezes, uma vontade louca

De voltar ao hospital onde estivestes,

Procurando por você com alguma chance, ainda que pouca,

De te encontrar e trazer você comigo, nem que fosse através de muitas preces!

Jamais me senti assim por alguém, tão próximo.

A ponto de não conseguir levar sequer um dia adiante.

Como seria importante, senão bastante ótimo,

Se eu pudesse estar contigo novamente, ainda que por um instante!

O tempo necessário para te dizer como eu te amo tanto!

Como a pessoa em quem tu te transformastes quando internada,

Aprendiz de inúmeras condescendências e assim, portanto,

Capaz de suportar inúmeros sofrimentos, ainda que calada!

Nada era capaz de te afligir ou de te assustar,

Fosse uma agulha ou um novo método de te tratar!

Sua delicadeza e maneira de aceitar o inevitável,

Era a única e melhor forma de conviver com o improvável!

O ruído do respirador jamais te incomodou,

Pois acho que aceitavas o sofrimento que te impuseram!

Fosse o Criador ou alguém que comandou,

Seu castigo nunca mudou o rumo que te deram!

Nós, meros observadores, apenas acompanhávamos,

Seu ritmo de respiração e tuas alternâncias.

Conforme seus movimentos, os quais observávamos,

Imbuídos que estávamos com tuas extravagâncias!

As mudanças de tua respiração nos acordavam,

Para verificar se tudo estava bem ou se algo era premente.

Muitas vezes, tu apenas te mexias e as horas passavam,

Para nosso sossego e para acalmar a nossa mente!

Nada passava despercebido, pois a gente sabia a rotina

Do aparelho que te mantinha viva e, na surdina,

Parecia oferecer o que a gente não podia,

Ou seja, uma melhor sobrevida, ainda que tardia!

Teus movimentos nos faziam acordar para o momento

Em que, por vezes, tu parecias suplicar

Por um instante mais de vida, ainda que um tormento,

Para poder ficar conosco e nos convida a te abraçar!

Foi num desses momentos em que tua lucidez

Me chamou para mais perto de ti e de tua alma.

Quando me pedistes um abraço, com muita timidez,

Só pude te dar meu calor, o que não aliviou o meu trauma!

Mas, talvez devesse ter-lhe dado minha vida, ao invés

De ter te abraçado, ainda que longamente!

Pudesse eu tomar teu lugar, de revés,

Para que não sofresses jamais, eternamente!

Hoje busco por ti, inutilmente,

Sabendo que estás junto do Altíssimo!

Uma alma iluminada, naturalmente,

E eu deveria estar de certa maneira, felicíssimo!

Todavia, tua ausência é sentida de impropério,

Como uma afronta ao destino, parecendo uma heresia!

Eu não consigo entender, este tema deletério.

Como isso pode acontecer, ainda que sob anestesia!

Tu já não sentias dor nenhuma ou qualquer sofrimento:

Aumentaram a dose de tua sedação.

Para que nada mais te atingisse, em qualquer momento,

Mas, esquecemos de que temos coração!

E essa parte foi a mais dolorida, pois sem trégua,

A amargura foi se instalando como um fungo.

Ainda que não fazendo uso de uma régua,

A fatalidade foi nos atingir de repente, nem permitindo um resmungo!

Ninguém mais para nos fazer ouvir: oi, Dona. Virgínia!

Bom dia! Como foi a noite: bem dormida?

Ninguém mais para responder, sem lamúria,

Onde foi parar minha Bela Adormecida?

Sisson
Enviado por Sisson em 04/05/2018
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