De hoje para ontem

Das saudades que coleciono,

das que guardo na lembrança,

uma é a de respirar ar puro,

o ar que me lembrava que era criança.

Tenho saudade também do silêncio.

De correr pra ver quem estava buzinando.

E sinto muito que hoje em dia

amaldiçoe tantos motores e buzinas que vão se acumulando.

Falta do silêncio, como poderia?

Até do barulho que ele fazia.

Ah meu Deus como era calma,

a companhia do zunido que só o silencio tinha!

Lembro que tinha um quintal gigantesco,

que hoje quando visito minha antiga botoeira

parece ter sido roubado,

da mesma forma que roubaram, o tamanho da ali plantada mangueira.

Saudade do joelho ralado,

da bicicleta sem corrente, do freio quebrado;

da bola furada, da briga na rua;

da menina apaixonada, de nem pensar nela nua.

Essas coisas que passam como outras quaisquer.

Uma infância que se resumia a uma ruela.

Lembranças de um tempo em que eu não precisava ser feliz,

eu apenas assim o era.