ÓPIO
És-me uma única entoação inalcançável:
Tu, passado irretorquível,
Bordaste um ligeiro abraço,
E num desfazer enevoado... Partiu.
Hoje a chuva embaçou as palavras,
Uma saudade abrasadora cantou só.
Tu, ser em instante,
Deixou-me com o desflorir dos dias,
Com o prelibar de teu verso e, um dia...
Alçou voo para longe de mim.
Tua lembrança é uma cálida brisa,
Teu riso inda compõe saudade.
Tu, um interdito inexplicável daquele instante,
Deixou-me reescrita nos versos e foi...
Abandonou entre nós um mélico canto,
Deixando para mim
Um ditoso amor que rugiu em ópio e fim.
És para mim:
Entoação ferida, sacrossanta...
Uma melodia antiga,
Um férvido abraço que ficou
E nunca, nunca mais voltou.