Avenidas
Nos recantos da avenida
Despida de todos
Gasta de serenidade e alegria
Embebida pelo surto
Consumida pela epidemia…
São restos que me sobraram que me fazem andar
São feridas abertas que ainda me deixam sentir
São palavras ainda vivas que ainda me fazem acreditar
É este aperto no lado esquerdo do peito que me deixa saber viva…
Nos resguardos da noite
Guardo o que ficou de ti
Retalhos de saudade
Trapos de roupa velha
Cartas desbotadas pelo tempo
E eu envelhecida num tempo que se perdeu.
Nos cantos da madrugada
Permaneço irrequieta pela doença
Em silêncio prematuro do sofrimento que me degenera
Aguardando junto à solidão a morte que chega
De forma menos triste que estas avenidas sucumbidas pela noite
Menos triste que a fome a que me entrego
A sede que me afogo
Entre recantos de lembranças tuas
Outrora minhas
Agora nossas
Parto no tempo esquecido
Em busca de candelabros apagados
Velas extintas da saudade
Braços teus que me alimentarão a vida
E darão sentido às avenidas do meu coração.