Avenidas

Nos recantos da avenida

Despida de todos

Gasta de serenidade e alegria

Embebida pelo surto

Consumida pela epidemia…

São restos que me sobraram que me fazem andar

São feridas abertas que ainda me deixam sentir

São palavras ainda vivas que ainda me fazem acreditar

É este aperto no lado esquerdo do peito que me deixa saber viva…

Nos resguardos da noite

Guardo o que ficou de ti

Retalhos de saudade

Trapos de roupa velha

Cartas desbotadas pelo tempo

E eu envelhecida num tempo que se perdeu.

Nos cantos da madrugada

Permaneço irrequieta pela doença

Em silêncio prematuro do sofrimento que me degenera

Aguardando junto à solidão a morte que chega

De forma menos triste que estas avenidas sucumbidas pela noite

Menos triste que a fome a que me entrego

A sede que me afogo

Entre recantos de lembranças tuas

Outrora minhas

Agora nossas

Parto no tempo esquecido

Em busca de candelabros apagados

Velas extintas da saudade

Braços teus que me alimentarão a vida

E darão sentido às avenidas do meu coração.

Joana Sousa Freitas
Enviado por Joana Sousa Freitas em 02/11/2005
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