Olhos de Cronos

Gosto de caminhar descalça

No antigo piso de madeiras largas

E, aos poucos, sentir

A maciez dos passos

Ao tocar o tapete azul

E, sem pressa, observar

O instigante mistério

Da sala dos Relógios –

Nesse caminhar abstrato

Fico próxima

Ao delicado papel de parede,

Acariciando

Com as pontas dos dedos

As texturas

Das florzinhas

Em tons de lilás e cinza,

Enquanto, admiro -

Um a um

Os nove relógios pendurados

Parecendo ninhos,

Marcando diferentes horas:

Alguns ponteiros lembram

Braços abertos, outros

Unidos, feitos braços

E mãos em posição de prece

A indicar caminhos -

Sinto a presença do vento

Que chega em companhia

Do meu Leão de cristal

E juntos observamos

Os relógios –

Olhos de Cronos,

Enquanto somos observados

Pelo Tempo,

A dor contida

Refletida nos vidros dos relógios

E disfarçada em versos,

Distraída, se esquece de passar...