Munch Mudocci
1.
Veias abertas
de um sítio gelado
onde o calor
reside
em teus lábios
com o meu ofegar
com a minha
estranheza
com o meu
expressionismo
íntimo
2.
Mergulho em ti
para uma perda cerimonial;
mergulho em ti
para achar-me
nos rascunhos
deste universo daltônico
que desconhece
a essência
do teu fruto
de Éden
e a sonoridade
que tiras
das cordas
esticadas
em minha
garganta
que possui tanto
a dizer
e que transfere
este dever de plena
entrega
ao meu coração
camuflado
por uma epiderme
de museu
inserido
num transitório
solstício
3.
Tantos nomes
que carregam
um mesmo calor
e que me causa
uma distinta emoção
original
que passo a renascer
no ventre da cegueira
para uma vez mais
ter
a honra
de ver-te
iluminada
4.
As horas circulam
teu nome singular
e profundo,
e cada silêncio
me sussurra tua
silhueta de lua,
e já não sei
se te desenho na carne
feito ternura alva
nem se te pinto
na parte interna do
meu crânio
como forma
de te tornar eterna
ainda que eu parta
num futuro que
não se anuncia
5.
A emoção da perda
de quinhentas telas
em nada se
equipararia
à sensação
de
perder-te:
esta me aflige
esta me condena
ao degredo
esta me sufoca
tanto,
que te buscaria até
no fundo de minhas
vísceras:
porque a tua ausência
é também
a ausência
de mim próprio
– a minha
inexistência
em segundos
6.
Memorizo teu nome
e sobrenome;
invento anagramas;
divido em sílabas;
busco proparoxítonas,
paroxítonas e
oxítonas;
separo vogais
de consoantes;
traduzo em línguas
esquecidas;
renovo em
línguas recentes
para
tornar-te sempre
presente
ainda que estejas
fisicamente
distante
7.
Que saudade colossal
sinto eu
dos teus lábios
britânicos
e do sorriso valente
às fronteiras
e familiar
às estrelas
e ao meu coração
que por ti
bombeia
e que explode
infinitamente
os dizeres
volte