tudo é outra coisa

Não podias tu

viver comigo

nas raízes

ressecadas

de um

amanhã canino

nem fazer girar

a vida

de razões poucas

e alegrias escassas

e portadora

d'um sentimento

cardíaco

dominado

por um marca-passo

de enfermidade

inserido

num templo

pacífico

feito uma capital estrangeira

inserida na essência

de um músico

que recita

a tua nostalgia:

as buscas

são quânticas

e o mundo

é caduco

e macro

para além

das vias férreas

e quase nada me recordo

do que tu abrigavas

em tuas mãos de cálcio

quando souberas

que o mar

não nascera

para saciar

a nossa sede,

mas para

nos enferrujar

com a tua

maresia

Não podia eu

fazer

tu ficar neste

ventre metalúrgico

que nomearam

de cidade;

não podias existir

e resistir

neste sítio

que sabe o teu nome

e o meu

e que não ousa

dedilhar

nas cordas do abrigo

nenhum dos dois

fonemas

que pode um silêncio

de luto causar

Não, não existe

o teu retorno

na sabedoria

de uma cartomante;

não existe

o teu brilho

no paganismo

nem no ateísmo

afetivo

nem na angústia

d'eu ser

o que fiz de mim

na tua partida

vegetal

na tua escultura

de toque

não mais possível

Deito a minha alegria

a minha delicadeza

a minha

esperança

e viro o balde

que é o meu coração

exausto;

sinto-me pesado

e me sinto

ainda mais

ausente

defronte

da tua ausência

de prata

bronze

ouro

e trigo:

não me acostumei

à anatomia do Eros

nem à dúvida

visual

da Aorta

Não, Helius não surgira

para romper

a cegueira do homem

contemporâneo

– as ópticas

estão lotadas

e as bibliotecas,

vazias –

como também

não surgiram girassóis

numa tola tentativa

de te recordar

porque a saudade

é um pêndulo oscilando

entre o Profundo

e o Devastador

Olham para o longe

– a noite toma

o sono

o sonho

a insônia –

e olho eu

para o perto

defronte da

artificialidade

de uma lua-espelhada

que não me guarda:

o esquecimento

é talvez

o amadurecimento

do desdém

Não, não cabe a mim

analisar os teus

passos

nem a inevitável

queda do crepúsculo,

como também

não cabe em mim

a ironia

nem o decifrar

de um

enigma:

o de lembrar

para esquecer,

o de esquecer

para lembrar