Ao inferno juntos desceremos

Gustavo sem muita dificuldade encontrou a sala onde Alessandra recebia cuidados.

Nada estava muito esclarecido, mas Gabriela comentou sobre dar os detalhes pessoalmente.

Assim que entrou pela sala imediatamente viu ela sentada ao lado do leito de Alessandra, e essa por sua vez estava deitada olhando para a televisão.

Gustavo sentiu um certo choque ao ver aquela cena, mesmo que ela aparentasse estar de certa forma bem, a imagem de uma pessoa querida encamada era impactante de mais pra qualquer um não se sensibilizar.

Ele entrou recebendo rápidos olhares de outros pacientes e seus acompanhantes, e um olhar alegre e receptivo de Gabriela, e antes que ele chegasse na metade do caminho ela levantou e o recebeu com um abraço:

- Gustavo, como vai? – Ela diz indicando que eles deveriam continuar a conversa do lado de fora.

Depois de se cumprimentarem Gabriela explicou a situação para ele:

- Ela teve um A.V.C mês passado e eu levei ela para o posto de saúde, de lá ela foi para observação e agora está transferida nesse hospital de transição. Ela está com a perna esquerda plégica e sensibilidade diminuída. Eu fiquei revezando com outras pessoas o acompanhamento dela mas teve muitos dias que Alessandra basicamente ficou sozinha e no início era eu sozinha quem estava cuidando dela e até faltei no trabalho para evitar deixa-la sem acompanhante...

Gustavo questionou a saúde emocional dela, pois quando ele entrou ela nem sequer se deu o trabalho de olhar para ele.

- Ela está assim mesmo, as vezes parece estar muito triste e deprimida, e outra hora ela parece estar bem mais feliz e determinada. Tem hora que ela finge que nem está me ouvindo e não aceita comer nada. Se você ficar por perto vai ver que daqui a pouco ela vai estar mais alegre.

Gustavo estava aos poucos se engajando dentro da situação, mas a real questão veio à tona quase no final da conversa:

- Você chegou a tentar falar com os pais dela? Ou algum responsável talvez? Até onde eu saiba Alessandra não tem nenhum parente no estado e isso é bem complicado nessa situação. Já era para alguém da família dela estar por aqui, não é o tipo de problema que deve ser deixado com os amigos...

- Alessandra simplesmente não quis e disse que não era para falar nada com a mãe dela sobre o que houve...

- Eu já entendi a situação, como a alta vai ser em 6 dias vou ter que levar ela para casa. O problema é que não sei se ela vai aceitar a minha ajuda já que a gente não se fala tem um tempo. Se ela recusar isso então eu não posso fazer muita coisa, não tem como obrigar ela a voltar comigo ou aceitar meus cuidados.

- Vamos entrar para você tentar falar com ela, mas é questão de estar por perto, uma hora ou outra ela vai acabar interagindo com você...

Enquanto entravam na sala novamente, Alessandra percebeu a presença deles e logo mudou seu rosto para uma expressão de indiferença.

- Alessandra, olha quem está aqui... é o Gustavo, você lembra dele? – Alessandra não move nenhum músculo apenas ignorando. Gabriela continua num tom de voz mais puxado. – Alessandra, ele vai ficar com você hoje ok? Mas amanhã mesmo eu vou voltar. Diz oi para ele pelo menos, e a gente já sabe que você está ouvindo pare de ficar ignorando assim...

Alessandra fechou ainda mais o rosto e agora fingia que dormia.

Depois que Gabriela foi embora Gustavo fingiu que estava fora do quarto, mas se sentou na cadeira esperando até que ela abrisse os olhos de novo.

- Então você está acordada né? Como que você foi parar nessa? A Alessandra que eu conheço nunca se deixaria deprimir só por causa de uma situação boba dessas.

- Por que você não veio me visitar antes?