SAUDADES

JANJÃO

Há que saudades de um tempo que não vivi

De um tempo em que tinha um teto para viver

Comida na mesa, para esbaldar-me, de tanto comer

Roupas limpas e novas, nada de marca famosa. Apenas algo pra vestir

Há que saudades de um banco de escola, a qual não tive acesso

Nem eu nem meus irmãos. A gente foi cedo vender balas nos faróis

E cedo pequenos furtos fazíamos para ter o que levar pra casa

Não havia tempo para sala de aula

Há que saudades de um pai e uma mãe

Meu pai não conheci, nos abandonou quando nasci

Minha mãe, para nos sustentar, muitos homens

Pra sua cama levou. Quantos não a fez chorar

Há que saudades de um tempo que não vivi

Um tempo de conversas na esquina, sem medo

Da polícia ou de traficante

De um tempo de risadas e conversas de cuca limpa

Há que saudades de oportunidades, as quais nunca tive

Oportunidade de emprego, digno

Oportunidade de lazer e cultura de boa qualidade

Oportunidade de convívio com o Negro, o Branco, o Amarelo

Há que saudades de uma vida sem prisões

Sem algemas, sem correrias por entre muros

Um mundo sem pancadas, torturas, trancas e solitárias

Um mundo sem cercas e que todos possam ver o sol sem autorização

Há que saudades da Paz que não tenho

dialetico
Enviado por dialetico em 17/10/2007
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