Luto Prolongado
Não há um só dia
Em que não me sinta asfixiado
Pela cisão estabelecida
E pelo vislumbre do fim.
Posso até me distrair,
E fingir por alguns momentos
Que posso superar,
Que posso seguir adiante.
Mas, por agora,
Há somente desesperança.
Em um continuum de agonia.
Sem indícios de que se acabe.
Ando em círculos,
Mas só encontro a mim mesmo.
Tento te alcançar,
Mas toco apenas pó.
Contigo, fora todo o universo.
Ruas; músicas; crepúsculos e auroras,
Espaço e tempo.
Todos sugados pelo ralo.
E a cada caminho que tento seguir,
Uma nova parede vem ao meu encontro.
Dou de cara e nova cicatriz,
E a vontade de reerguer-me se esvai.
Todo o meu universo fora reduzido,
A um quarto abafado,
E uma mesa bagunçada,
Cheia de lamentos.
As melodias, antes coloridas
Tornam-se acinzentadas, senão negras.
E a crença de que voltariam,
Segue implacavelmente refutada.
Se por algo ainda aguardo,
É pelo momento em que todos nós
Daremos nossas mãos,
E finalmente recomeçaremos.
Nossas vidas violentas,
Serão mera memória.
Não iremos mais nos agredir,
Pois seremos incapazes.
No dia inevitável,
Estaremos mais próximos,
Todos nós,
E homem nenhum sentirá saudade.