Folhas de setembro

Entro no meu quarto e procuro não vê as paredes. Mas elas, permanecem ali unidas, este fato que sempre me chama atenção, lado-a-lado formando uma forma geométrica igual a que eu fazia para desenhar um dado no caderno. Um quadrado, como um quadro.

Quadrado, como meus pensamentos. Antiquado, meu tormento.

Na parede o retrato no quadro pendurado lembra-me os belos momentos que eu era embalado no colo macio de minha mãe.

Era setembro dia sete daquele mês. Enquanto, meu corpo escorria suor do futebol que eu acabará de jogar com os meus amigos, mamãe me gritava para ir tomar banho. Mas hoje só, e deitado nesta cama com os olhos fixos na parede amarela e para o quadro que nela há, recordo-me dela, de sua voz aveludada, de suas mãos macias, que me afagavam e me fazia cafuné. Hoje aperta-me, a saudade, me esmaga, faz-me dela sua casa, sua morada.

Levanto, debruço na janela e, por ela vejo folhas caídas no chão me fazendo lembrar do caule de minha vida, de minha mãezinha querida, que partiu em setembro, me deixando com esta imensa saudade.

Hoje, não visto a cor de setembro. E, não vejo a cor azul. Apenas o cinza, a percorrer minha alma como se fosse dona de meu ser, de meus pensamentos.

Vivo rastejando no tempo e nas horas que antecedem os dias. Pois durante, as noites só, me vejo e viajo nesta parede de cor amarela e vazia.

Amanhece e as tardes caem. E, junto com elas as folhas de setembro. Até deixo, o vento tocar-me enquanto passo o café. Mas é em vão. E, sempre sem sorte. Pois já, não há café quente que tire de mim esta morte.

A morte daquela que não voltará mais.

A morte que por fim tive sorte ao virar lembranças.

Esmaga-me a dor de abraçar um quadro, neste peito quadrado que outrora foi só amor.

Sigo a noite com estes pensamentos sem fim. Ai de mim, se não houvesse os dias eu partiria de madrugada. Onde, tudo que é pena, vira peso, no corpo de um ser, de um nada.

Minhas noites já não ouvem mais tua voz. Apenas o silêncio, que grita dentro de mim.

No calendário marca o mês e o dia que ela partiu mas o ano segue passando, como quem diz não ter culpa. E, me pedido desculpas prefere não envolver com a minha dor.

Um certo dia eu tentei matar esta saudade de dentro de mim.

Lembro como se fosse hoje, acordei sem ter dormido, com uma dor que martelada a minha cabeça. Sentei no batente da porta e olhando o terreiro me vi jogando bola. Então senti, minha maezinha acariciando os meus pensamentos e me chamando para perto. Eu sorri e pedi para partir com ela. Mas ela, nada falou e meus olhos lacrimejaram.

A dor foi tão grande, que tomou conta de mim. Corpo em fúria, mãos sem dó. Quebrei as paredes de minha dor. Agora, meu teto são as estrelas e as "paredes"são cobertas de sonhos.

Abraço o quadro e o vento toca o meu rosto enquanto as folhas amarelas caem no chão de minhas memórias de outrora.

#CristinaRodrigues

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Sigam_meosbonss
Enviado por Sigam_meosbonss em 05/09/2020
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