Voz

Recolho-me naquele quarto escuro

Silencioso e gelado todas as noites

Escondida atrás da cama pequena e azul

Refugiada do mundo real e das ruas sonoras

Tal como quando criança

Escondendo-me das pessoas e das coisas mortas.

Encolho-me entre lençóis

Escutando a tua voz

Voz que trespassa os becos sem saída

As ruas cheias de gente

As paredes cinzentas desta casa

Da maturidade à infância

A intemporalidade.

Passam as horas e eu oiço-te

Vindo de todos os cantos desta casa

Que mora em mim

De corredores infinitos

Vazia fazendo ecos surdos

Que em tempos era coberta de crianças

Correndo, saltando e escondendo-se…

Tempos ainda que já eu me escondia

No canto mais escuro da casa,

Corroída por fantasmas

Roendo as unhas de desespero

Contando um-dois-três… Até chegar a tua voz.

Voz que me abrandava o ritmo

Silenciava e apaziguava a alma

Me passava a mão no rosto

E me deixava sem medos de ser criança…

Hoje já não vens tantas vezes…

Mas quando tenho um aperto no peito, venho aqui

E deixo-me ficar aqui,

Sem unhas

E ainda acreditando em fantasmas…

Aguardando a tua voz.

Joana Sousa Freitas
Enviado por Joana Sousa Freitas em 13/11/2005
Código do texto: T71024