A DOR DE UMA PARTIDA

“Quando se perde um filho,

se ganha um vazio

do tamanho de todos os amanhãs.”

Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

(a todos os pais que tiveram de sepultar um filho)

Tu partiste tão cedo!

nem tive tempo

de projetar-me em ti,

exercitar minha esperança

em teus sonhos,

refletir meu sorriso

no espelho do teu olhar,

experimentar teus frutos

na árvore de tua paternidade!

Tudo se ordenou

desordenadamente

em tua precoce ausência.

Tu deverias esperar

o galopar dos anos

para que eu, já estando lá,

pudesse arrumar teu leito de nuvens

com os anjos,

e esperar-te para o teu

adormecer final.

Mas tua apressada partida

deixou-me apenas com o cobertor

da sufocante saudade.

Mia diz que terra nenhuma é suficiente

para enterrar uma mãe.

E tu!?

quantos territórios

precisarei para demarcar

a dolorosa sepultura?

Quanto oceanos chorarei

para enchê-la

com as lágrimas de um

inesperado adeus?

E me perdoe

se a dor turva-me a visão

dos Seus propósitos

e a consequência

do um livre arbítrio.

Queria ao menos

ter podido me despedir

de ti em tua vida,

segurar a tua mão

e dizer-te

“vai ao encontro

do nosso Pai,

pois se inevitável é

o Seu chamado,

peça-lhe,

então, para antecipar o meu:

para o reencontro

que já anda no vagar

de uma eternidade.”

E nesse teu futuro abortado,

fico com o legado

do meu presente despedaçado,

cultivando no terreno

abandonado

uma flor fúnebre

que um dia espero

vê-la florescer em ti.

© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

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Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 05/11/2020
Código do texto: T7104763
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