José carpidor
O mato lá em casa crescia,
então, José ia
capinar o quintal.
Em meio aquela toada,
eu observando.
Um olho seu me olhando
e o outro olhando a enxada.
Gostava de ouvir
as histórias que contava,
enquanto o capim roçava,
o tempo voava
e a tarde caia.
Camisa mal abotoada.
Ele falava da dor
e apontava a barriga.
Ali, um caroço havia,
mas José insistia
no dever assumido.
Sem esboçar gemido,
balançava a cabeça
e lançava um sorriso.
Toda vez que o mato crescia,
José aparecia.
Um dia o mato cresceu.
José não apareceu.
Ficou na memória.
Guardei na história.
Seu rosto lembrava o de Cristo,
cabelo comprido,
semblante sofrido,
olhar envesgo.