José carpidor

O mato lá em casa crescia,

então, José ia

capinar o quintal.

Em meio aquela toada,

eu observando.

Um olho seu me olhando

e o outro olhando a enxada.

Gostava de ouvir

as histórias que contava,

enquanto o capim roçava,

o tempo voava

e a tarde caia.

Camisa mal abotoada.

Ele falava da dor

e apontava a barriga.

Ali, um caroço havia,

mas José insistia

no dever assumido.

Sem esboçar gemido,

balançava a cabeça

e lançava um sorriso.

Toda vez que o mato crescia,

José aparecia.

Um dia o mato cresceu.

José não apareceu.

Ficou na memória.

Guardei na história.

Seu rosto lembrava o de Cristo,

cabelo comprido,

semblante sofrido,

olhar envesgo.

LUCIANO AUGUSTO
Enviado por LUCIANO AUGUSTO em 27/11/2020
Reeditado em 02/12/2020
Código do texto: T7121914
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