Saudade

A saudade, quando bate,

É rodada de mal jeito.

Cala fundo, doi no peito

E o lenço fica apertado.

O índio fica achicado

E a vista, quando se expande

Lá prás bandas do Rio Grande

Deixa o cuera abichornado.

Quando a saudade se apeia

Estraga logo com a festa.

É um pranchaço bem na testa

De uma adaga enferrujada.

Chama carancho e corvada

Essa cobra venenosa

Que consegue ser cargosa

Que nem mosca de charqueada.

Gruda mais, a cabotina,

Que xamixumga de açude.

E não há reza que ajude

A suportar tanta dor.

Quanto mais se é por amor:

O taita, então, se arrebenta,

Tironeia e não agüenta

O pealo no tirador.

Eu sinto muita saudade

Lá do Pago do Sul

Daquele sol tão azul,

Da água fria, do minuano.

Eu quero ver se, pra o ano

As coisas correrem certo,

Eu vou lá prá ver de perto

O meu rincão haragano.

Não quero morrer tão longe

Sem ver meu pago de novo.

Me despedir de meu povo

Tomar mate e chimarrão.

Dançar vaneira em galpão

Comer graxa de picanha

Regada a um trago de canha

Com tempero de um violão.

Mas, se Deus não quizer ver

O meu sonho realizado,

Não quero ser enterrado

Longe da Pátria Campeira

Me queimem numa fogueira

E joguem tudo no mar,

Prá um pedacinho chegar

Às areias de Cidreira.

Iberê Machado
Enviado por Iberê Machado em 14/11/2005
Código do texto: T71361