(C)idade perdida

Esquecida a fagueira mocidade

a fogueira do tempo recorda

que viver é queimar-se em saudade

em ruínas da cidade que acorda

O sono distante se desmancha

O sonho alegre se avizinha

em sinos que vibram, a rua dança

o antigo som, a triste valsinha

Acalento sério que exige a distração

por vazias paisagens de épocas ligeiras

sob a nostalgia lírica que pintou no coração

com o pincel das lembranças faceiras

Longínquas árvores, de verde segredo

que nas lindas tardes frondavam os sons

da infância singela, sem dor e sem medo

de voar e só voltar na aurora de seus dons

O céu, teto daquele mundo

refletia a inocência límpida

em seu azul, de mistério profundo

testemunha de toda pureza e volúpia

Catedrais que sentem a dura falta

daqueles que há idos anos, amor juraram

em catequética eternidade exata

somente no jovem devotamento que brilhara

Brancas e largas casas, coração estreito

fugiu ao sentir o sol pelos becos e ensejos

já não há estrelas nem sonhos no peito

só a saudade que povoa os meus vilarejos

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 04/11/2021
Código do texto: T7378434
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