OS DOIS CRAVOS
Homenagem ao querido e saudoso
poeta Gióia Jr autor desta preciosidade
que estou editando
Da mesma terra fecunda
Na tarde macia e langue
Nasceram dois cravos rubros
Dois rubros cravos de sangue.
Nasceram na mesma terra
Ao mesmo raio de sol
E juntos como nasceram
Rubros e meigos cresceram
Beijando o mesmo arrebol.
Um dia boiavam nuvens
Na fúria que desespera
Banhava a fronte rosada
Da sublime primavera.
Passou por aquela parte
Uma menina sem forças.
Tão pobre, tão pobrezinha
Que nem sapatinhos tinha
Pálida e triste inclinou-se
sobre a terra de joelho
E foi apanhar humilde
Um dos dois cravos vermelhos.
Iria depositá-lo
Na terra nua e sombria
Onde num sono de há muitos
Sua mãezinha dormia.
E dos olhinhos aflitos
O pranto rolou sereno
Como um filete de prata
Por sobre o seu rosto moreno.
E uma lágrima sentida
Rolou da pálpebra exangue
E foi cair docemente
Num dos dois cravos de sangue.
E o cravo lindo de um brilho
Que quase não se descreve
Tornou-se claro de arminho
Tornou-se branco de neve.
Desde esse dia repousa
Na casta serenidade.
Um cravo frio na lousa
Branco e frio de saudade.
Cravo branco, cravo triste feito de lágrimas,
Feitos das vestes de arminho
Não venhas nunca em meu peito
Não quero ficvar sozinho.