Na multidão de lírios

Perdeu-se na multidão de lírios o perfume da minha infância.

O cheiro de margaridas no jardim de nossa casa,

Aquele gosto meio aveludado de pêssego,

O milharal onde escondia minhas vergonhas.

Perdeu-se e ainda se encontra na multidão de lírios o perfume da minha infância.

Os pedaços de tabaco do pai esquecidos no chão da cozinha,

A ternura da mãe a coser mais uma colcha de retalhos,

A figueira que ainda não morrera

Mas que dela os frutos quase não como mais.

Perdeu-se na multidão de lírios o perfume da minha infância

E arrastado pelo vento depositou-se na superfície quase sagrada das corolas

E sagrado se fez em pétalas.

Belo Horizonte, 26 de junho de 2006

Rodrigo Ribeiro
Enviado por Rodrigo Ribeiro em 15/12/2007
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