Na multidão de lírios
Perdeu-se na multidão de lírios o perfume da minha infância.
O cheiro de margaridas no jardim de nossa casa,
Aquele gosto meio aveludado de pêssego,
O milharal onde escondia minhas vergonhas.
Perdeu-se e ainda se encontra na multidão de lírios o perfume da minha infância.
Os pedaços de tabaco do pai esquecidos no chão da cozinha,
A ternura da mãe a coser mais uma colcha de retalhos,
A figueira que ainda não morrera
Mas que dela os frutos quase não como mais.
Perdeu-se na multidão de lírios o perfume da minha infância
E arrastado pelo vento depositou-se na superfície quase sagrada das corolas
E sagrado se fez em pétalas.
Belo Horizonte, 26 de junho de 2006