Sobre Mundos Estelares

I

O tempo é uma estranha encruzilhada.

Onde, semeadas vivências,

desfilam nas mãos,

esvaem-se aos dedos

por toda forma dada numa existência.

E no percurso de teus artelhos,

queda-se ao infinito espaço;

esquece-se o finito compasso

do coração por ele enfim encerrado.

II

É giratório movimento.

Cadafalso e incauto pêndulo,

cujo eixo de si mesmo

ao carrilhão pesado,

em largo percurso lasso,

ao chão desabou.

Brônzeo pinhão de impávido labor,

triste silenciado calou.

E ao último e desaninhado leito

assim se desfez.

Enlutado, soçobrou.

III

Pois,

assim o é.

Para cada um,

um relógio.

Incessante romaria;

cascalho que seixo vira.

É a constante dança

de etérea água da vida.

Que por vezes tão corrido carrilhão,

velho irrequieto maldito,

retira-nos o calor

do melhor aconchego.

Impõe-nos a rude saudade daqueles

que despedidos foram no inconstante descontento

do vai e vem das vicissitudes.

IV

Enfim,

talvez o segredo

do tempo parado

é a oferta de um Amor dedicado.

Inconteste carinho a inocente nascido direcionado.

Este que por seio,

um dia suprido descanso,

copiou a imagem de sua semelhança;

ascendeu ao sagrado veio.

Desceu em seu refúgio de criança.

V

E então,

assim como o tempo

exausto sempre se encerra,

vem em desavisada forma.

Para cada um à sua maneira;

para cada um,

a ribalta de seu próprio palco.

E teu Grande Promontório,

gênese de tua herança se vai.

Deixa por adeus o singelo silêncio.

O fato retorno à terra.

Deixa-nos a dita de reais provérbios;

vivazes conselhos que aos sonhos,

verves serventes,

prosperaram tua memória.

Até que no fim alcance,

cada um no seu dia acertado.

E onde agora o livro é aberto,

um fogo- fátuo anunciado,

naquilo que somos e sempre fomos:

História,

Evoé

e Fado.

~X~

Rio de Janeiro, 13 de Setembro de 2020.

Davi Duarte
Enviado por Davi Duarte em 30/12/2023
Reeditado em 30/12/2023
Código do texto: T7965500
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.