Escrever; Respirar; Chorar; Sonhar; Chorar de novo.

Não há liberdade alguma na autoria.

Não há liberdade sem privacidade.

Por isso, sou vários em um.

Escritores anônimos de um escritor anônimo.

Colaboradores desconhecidos de um breve

tratado do Eu.

Escrever é como respirar,

e eu me sinto embaixo d'água.

Inspiro, mas não há ar no mundo

que encha o meu peito furado.

Vazio.

Inspiro de novo, tento respirar, não consigo.

Estou me afogando e não consigo respirar -- e como

poderia? --, a cada tentativa, o fôlego me escapa e

o despero aumenta. Afundo em pensamentos, não

resisto, me deixo levar.

Quero chorar, mas não sei chorar. Não

me ensinaram isso na escola e agora já é tarde

demais para aprender. Se um dia soube, desaprendi.

Talvez chorar seja o real oposto de se afogar, como uma

forma de drenar esse oceano solitário e inabitado

que em nós habita.

Na incerteza do Eu, fragmentado, me encontro em você.

Em cada pedaço seu, reflito o que nunca fui.

Tenho sonhado os teus sonhos, cujo aroma é fresco e a brisa é gelada,

os dias não se findam e o crepúsculo segue adiando sua lenta e linda chegada.

Pelo teu olhar, me lanço num futuro perdido em palavras.

Onde reside o sonho, faremos nossa morada.

Antologia da Existência
Enviado por Antologia da Existência em 03/03/2024
Reeditado em 03/03/2024
Código do texto: T8012082
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