PORTO ALEGRE 252 ANOS, 20 DISTANTE DE MIM...

Mágico e insondável espelho, o Rio

reflete desta cidade o antigo casario.

Seguindo para o Sul se deixa a Usina,

o Alto da Bronze, a Harmonia, triste sina.

Na bruma matutina revela-se a recôndita aldeia

das quermesses, das retretas, dos antigos carnavais.

Remembrança que minh’alma incendeia,

Porto Alegre dos tempos estivais.

Para onde foram a Sloper, a Neugbauer, o Praiana,

o Café da Bruxa e o bonde que já não vem?

Há um policial passeando à paisana,

a milícia amedrontando mais um refém.

Jazem nos escaninhos da memória

as matinés do Guarani e do Imperial,

o Baile do Perfume – noite de glória! –,

das debutantes sonho então virginal.

Shoppings centers, fast foods, calçadões.

Rua da Praia, hoje circo dos horrores.

Camelôs, traficantes, trombadinhas, arrastões.

Por que mataram a Porto Alegre de meus amores?

DEU PRA TI, MEU ASTRAL

Tenho saudades tuas, Avenida Osvaldo Aranha,

Do verdor do meu parque, o da Redenção,

Das gurias do Instituto de Educação.

Por que esta dor inaudita, estranha

Que se nega a deixar meu coração?

Lembranças das palmeiras imperiais

Que vergavam, assombrosamente,

À força dos ventos nas noites invernais,

Ouvindo-se das pinas o canto plangente.

À noite a Avenida se traveste

Para as festas do Ocidente e do Bar João,

No bêbado tresloucado que investe,

Acreditando serem as estrelas seu chão.

Das ambulâncias ouvem-se a sirene que ensurdece

Rogando alas para o socorro a mais um em depressão.

No domingo ensolarado

— o belíssimo domingo universal —,

Como descreveu encantado,

Machado de Assis, outrossim,

O Bruxo do Cosme Velho, et cetera et tal,

Agora escrevo eu, da saudade eo meu distante Bom Fim...