MEU QUERIDO PAI

Do alpendre eu o via subir a Rui Barbosa

E renascia em meu peito fina alegria.

Desembalado, para seu colo eu corria

Esperando, ao menos, uma bala gostosa...

Levando-nos à chácara, primos e primas,

Ensinava-nos a descascar as laranjas

Que choveram em nossos topetes e franjas;

Como resistir e não fazer disso rimas?

Como esquecer seu velho Ford e os passeios

Lá no bagageiro? Olhávamos estrelas!

Sonhando acordados e acordando com elas

Sempre ouvindo do casal: Seus planos e anseios...

E o seu amigo que com a faca comia?

Eu seguia seus movimentos, apreensivo,

Vislumbrando a presença de sangue vivo

A manchar-lhe a boca... Para minha agonia.

Como esquecer seus piparotes na orelha?

Quantas vezes eu o procurei lá na esquina?

Como esconder aquela dor tão repentina

Que dentro de mim zumbia, como uma abelha...?

Octaviano era seu nome, foi apelidado Tavico.

Por não trair princípios, perdeu a carreira.

Porém sinalizou: Mais vale uma trincheira

Que vender sua alma para ficar rico.