Lâmina atroz

Fio de aço, lânguido e perverso

Atravessastes as mais duras têmperas

E agora debrunha o meu coração

Pontilhando-o em chagas precisas.

E eu, tal qual, escudo de toda intempérie

Resguardo-me para os dias piores.

Dura e cruel sofridão

Foi-me tão pouco o pouco

E agora só esperança.

Fio de aço, lâmina atroz

Traidor do mais ardente desejo

Que eu, sem culpa nenhuma tenho.

Onde nele convergi as mais puras idéias

O mais puro de mim, que só eu sei que é.

E agora, como colcha de retalhos pespontados

Fica uma parte de mim, uma parte pequena e que ama

Uma parte que jorra de lágrimas e angústias

Matando-me em meu próprio ser.

Vicente Freire

17/10/1983.