COMO POSSO TE ESQUECER?

Hoje, reli tuas cartas amareladas.
No melancólico sótão da memória,
Algumas caixas empoeiradas
Ainda guardam muitos sonhos.
Percebi que o tempo é traiçoeiro,
Não hospeda apenas uma passagem,
Determina a existência de meu amor.
Sinto-me inanimado nesta clausura
Que me acresce de infinda saudade.
Vejo a lua esconder o brilho,
Conspirando contra meu sentimento.
Não consegui transpor a lembrança.
A cada dia sou acometido por lágrimas
Que me punem pela aquiescência
De sempre mergulhar no passado.
Não luto, a intempestividade do rompimento
Enegreceu minha atitude e suscitou a dor.
Minha incompletude fez-me refém
De um amor que há muito partiu.
Agora, embebido no fel do abandono,
No inquietante lamento da reconstrução,
Vi a letargia danosa se avantajar.
Não mais articulo, fui soterrado pelo abandono.
Abracei o vazio, flertei com a tristeza.
No adeus, teus dedos datilografaram o ar
E apagaram a luz que iluminava a felicidade.
Preciso me reciclar, voltar a viver.
Que mais preciso fazer para te esquecer?




Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 22/01/2006
Reeditado em 22/06/2010
Código do texto: T102484