Adagio em branco
Hoje nem mesmo o papel branco me conforta.
Hoje, que a vida passou de novo em branco.
Hoje que não foi hoje, hoje que foi o mesmo que ontem,
que não foi ontem e que foi o mesmo de hoje.
Que não foi. Que não irá mais. Que se apagou como a estrela
a centelha do céu. Que está lá, a fórmula e o pó do hoje
e que não pode ser visto a olho nu.
Hoje que não pode ter passado como a morte gris.
Hoje que é sem ninguém, hoje sem amanhã.
Hoje que nem o papel branco conforta,
Hoje que é igual ontem. De luz acesa. Tão claro e sinistro...
Hoje de amanhã como ontem.
Hoje de loucura, hoje de solidão. Hoje de barriga cheia e meia calçada.
Que nem estrela apagada
Que nem começou...